domingo, 5 de julho de 2015

Lenda Che Guevara




Eram "lenda urbana da família", diz guardião de fotos inéditas de Che
O corpo do guerrilheiro argentino aparece sobre uma mesa improvisada na lavanderia de um hospital de Vallegrande, na Bolívia.

Por 46 anos, as seis fotografias originais do corpo de Ernesto Che Guevara permaneceram incólumes dentro de um envelope, junto de várias outras imagens da Bolívia e do Peru, em uma casa da família Cuartero, no povoado espanhol de Castiliscar, na província de Zaragoza. “Eu já tinha ouvido falar das fotos, mas, para mim, era como se fossem uma lenda urbana na família”, afirmou ao Correio, por telefone, Imanol Arteaga Cuartero, vice-prefeito de Ricla, município de 3,2 mil habitantes. Ouça trecho da conversa:

Imagem de Che Guevara colorida por computador


O corpo do guerrilheiro argentino aparece sobre uma mesa improvisada na lavanderia de um hospital de Vallegrande, na Bolívia. Em duas fotos, ele tem a roupa suja de sangue; nas outras quatro, está sem camisa. “Elas foram tiradas por Marc Hutten, fotógrafo da agência France-Presse. Ele foi colega de meu tio no seminário, onde ambos as revelaram. Hutten deu as fotos a ele, como cópias de segurança”, contou Imanol, referindo-se ao tio, o missionário Luis Cuartero Lapieza, que trabalhou na Bolívia por mais de 11 anos. Lapieza levou os registros à Espanha no fim de novembro de 1967.

Após a morte do tio, Imanol perguntou a uma irmã de sua mãe sobre as fotos. “Minha tia me contou que elas estavam em Castiliscar (a 119km de Ricla) e fui vê-las com outro tio”, lembra. “Em janeiro de 2013, quando abri o envelope, eu disse: ‘Por Deus, como pudemos guardá-las por tanto tempo?”. Imanol imaginava que as fotos fossem cópias de outras já publicadas pela imprensa. “O valor sentimental delas era tão grande que eu ignorava seu valor histórico.”

O político decidiu investigar as origens da foto e, por meio de pesquisas na internet com as palavras-chave “jornalista francês Che morto”, chegou a Hutten. Foi então que constatou a similaridade entre as imagens feitas pelo fotógrafo francês e as que possuía. “Para mim, foi uma espécie de terapia”, contou. Além dos seis retratos de Che morto, ele guarda duas fotos do cadáver da guerrilheira Tamara Bunke, companheira do argentino.

Jornalistas souberam da notícia e tentaram convencer o vice-prefeito a publicar as fotos. Ele resistiu, em respeito à memória do tio. “Um repórter francês me procurou mostrando interesse por elas e me disse que eram diferentes das que existiam. Eu sabia que tinham valor importante, mas não tanto quanto se percebeu”, declarou Imanol. Che Guevara foi capturado em 8 de outubro de 1967 e executado no dia seguinte por militares bolivianos.

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