A Loira do Bonfim é um personagem mitológico da cidade de Belo Horizonte. Na década de 1950 ficou conhecida na cidade a lenda de uma mulher loira que conquistava os homens no centro da cidade e os convencia a ir na sua casa, no bairro do Bonfim. Ao chegar lá ela se dirigia ao cemitério e dizia ser ali sua morada. Dizem que ela é loira, tem algodão no nariz, usa roupa branca e aparece no banheiro da escola depois que alguém chuta o vaso sanitário e dá descarga três vezes. É nessa lenda que os alunos do Instituto de Ensino Cecília Meireles, de Santo André, acreditam. "Minhas amigas contam que viram a loira no banheiro do segundo andar, agora só usamos o do andar de baixo", diz Júlia Garcia, 8 anos, que fica arrepiada só de ouvir barulhos estranhos quando vai ao sanitário. Na imaginação de Victor Paulon Silva, 8, esse fantasma usa macacão rasgado e tem a pele rachada. Ele explica que, em vez de dar chutes, tem de bater palmas. A forma de aparecer em São Caetano também difere, segundo Bárbara Todreve, 11: tem de jogar um fio de cabelo na privada, chutá-la e falar três palavrões. "Já fiz o teste e nunca apareceu nada, por isso não acredito." Não há versão certa nem errada; a história é tão antiga que é impossível definir quantas existem. Há várias décadas, ela assusta os alunos, como Enzo Liberatori Calais, 8, que já fez xixi na calça por medo de ir ao banheiro. "Minha irmã disse que viu a loira. Ela estava sangrando e arrancando os cabelos bagunçados", lembra Enzo, que já chorou por causa disso, mas agora não acredita mais na história. A lenda já era contada na infância de Maria Luiza de Carvalho, 67, avó de Bárbara: "Diziam que era um espírito abandonado que vagava pela escola com algodão no nariz e na boca. A única que sei que existiu de verdade foi uma que vi da janela de casa quando tinha 7 anos". Segundo Maria, uma loira linda e sorridente, de olhos azuis e cabelo ondulado apareceu enquanto ela cuidava da irmãzinha. "A janela estava trancada e abriu sozinha, foi quando vi a mulher que desapareceu no instante em que olhei para minha irmã." Sobrevivem às novas gerações A Loira do Banheiro, por exemplo, é uma forma de evitar que os alunos matem aula ou fiquem muito tempo bagunçando nos banheiros das escolas. Tanto que uma das versões diz que uma garota loira matava aula no banheiro da escola quando escorregou, bateu a cabeça e morreu. Já a Loira da Estrada, que aparece de madrugada pedindo carona a caminhoneiros, ensina que não é bom dar carona a estranhos para não correr risco de assalto. Enquanto o Saci surgiu para assustar fazendeiros que maltratavam escravos. Por causa da mensagem de alerta, as lendas são transmitidas com pequenas modificações para se adaptar ao objetivo que se propõe. É como um telefone sem fio, que passa a informação de boca em boca e, no fim, é contada de outro jeito. Em geral, as lendas que referem-se à vida em áreas afastadas, como Curupira e Caipora, não assustam quem mora na cidade. Parece ser mais fácil encontrar um fantasma no banheiro da escola do que ver o Saci torcendo o rabo dos cavalos. Outras loiras assustam por aí Nos Estados Unidos, essa loira é conhecida como Blood Mary (Maria Sangrenta). Dizem que também deve ser chamada em voz alta enquanto se olha para o espelho, mas lá circula por universidades, em vez de escolas de Ensino Básico. Conta-se que a moça gostava de matar aula no banheiro e recebia ajuda de um funcionário para isso. Teria sido assassinada por ele, que apaixonou-se por ela e não era correspondido. Essas histórias ganham o nome de lendas urbanas, porque circulam entre as cidades, como a da Loira do Bonfim, que surgiu em Belo Horizonte há 60 anos. Uma das versões diz que foi morta por um taxista e enterrada no cemitério do Bonfim. Depois, seu fantasma passou a pedir carona aos motoristas. No caminho, descobriam que o destino era o cemitério. Ao chegar lá, ela desaparecia. Drielly Roth, 10, de Santo André, lembra que outra loira ronda seu bairro. Apareceu na padaria perto do cemitério e, quando o funcionário disse que o local já estava fechado, ela foi embora flutuando.
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