O Quibungo é uma lenda trazida pelos escravos bantos vindos de Angola para o Brasil. Como toda manifestação popular, sofreu interferências culturais ao ser trazida para as terras brasileiras. Na Bahia, essa história é contada com o objetivo de disciplinar, a partir do medo, as crianças teimosas que se afastam dos pais ou que se recusam a obedecer aos adultos.
Metade homem e metade animal, o Quibungo tem uma cabeça grande e uma boca enorme, que fica em suas costas, por onde engole as crianças. Não possui grande inteligência ou esperteza. Nas histórias contadas, ele pode ser morto por qualquer tipo de arma. Ao ser atacado, grita apavorado.
A lenda do Quibungo se assemelha à do Velho do Saco, uma história de raízes portuguesas que conta sobre um homem velho feio, esfarrapado e sujo que tinha um saco grande nas costas. Ao ver crianças teimosas ou sozinhas, pegava-as e colocava-as no saco e com elas desaparecia. O saco nas costas, onde são colocadas as crianças, assemelha-se à bocarra nas costas do Quibungo.
A lenda é uma história que relata acontecimentos fantasiosos (envolvendo pessoas, animais, elementos da natureza e figuras míticas), que se passaram em certo tempo e lugar. Pode ter traços de realidade, ou não. Muitas vezes, as lendas misturam realidade e fantasia, construindo uma nova versão para um fato. O Quibungo surgiu na África por um determinado motivo e tomou outra conotação quando chegou ao Brasil.
Em Angola ou no Congo, o termo Quibungo significa lobo animal. Entre aqueles povos, existiam bandidos que invadiam povoados e aldeias roubando os seus pertences, escravizando homens e velhos, ou sequestrando mulheres e crianças. Os africanos denominaram os grupos que agiam dessa forma de quibungo, ou seja, aquele que entra sem ser convidado.
O pavor causado pelos bandos às comunidades inspirou a criação desse personagem horrendo, que foi transmitido por muito tempo e chegou até a Bahia, no Brasil, com a vinda dos escravos. Não se pode afirmar, ao certo, se a forma física do bicho é a mesma.
No Brasil, já existiam lendas que aterrorizavam as crianças como a Cuca, a Mula-sem-cabeça, o Lobisomem. Nessa mistura de culturas, o Quibungo sofreu alterações e passou a ter objetivos diferentes. As histórias criadas com o conto sempre apresentam finais trágicos e ao mesmo tempo felizes.
Podemos observar que, mesmo a lenda ocorrendo em locais diferentes e com pessoas vivendo situações outras, o objetivo primeiro da lenda, que é apavorar, ocorre em todos os lugares citados. Esse é o elo que existiu entre a lenda nos diversos lugares de ocorrência. A Lenda do Quibungo não migrou com os bantos para outros estados porque a Lenda que eles trouxeram estava relacionada aos problemas vividos na África e não no Brasil. A Bahia se apropriou do termo e criou o bicho para resolver os problemas que estavam sendo vividos pelas comunidades na época. Com isso, ela passou a fazer parte do folclore baiano.
Muitos contos sobre o Quibungo foram narrados por João da Silva Campos: O Quibungo e a Cachorra, A menina e o Quibungo, O Quibungo e o Homem, A Aranha Caranguejeira e o Quibungo, O Quibungo e o Saco das Penas, O Quibungo e o filho Janjão. Suas histórias surgem em um conto romanceado, com trechos cantados, como é comum na literatura oral na África e na China, onde normalmente ocorre ao ar livre em ruas ou praças.
Com o tempo, muitas foram as associações feitas a esse bicho, como feiticeiro, demônio, lobisomem e macacão. Porém, continua sendo aquele ser que prefere a carne fresca das crianças.
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